sábado, 21 de janeiro de 2012

Relação Preço/Lucro (P/L)


Sem sombra de dúvidas a relação P/L é um dos indicadores mais importantes na análise fundamentalista. Esta relação mostra o tempo em anos que um investimento retornaria o capital inicial investido. Para um melhor entendimento, irei demostrar nas tabelas abaixo os rendimentos de uma hipotética poupança que paga de 0,6% ao mês, comparando com um suposto título que paga 10,0% ao ano, ambos com um valor inicial de R$1.000,00.



Para conhecimento do leitor, nestes cálculos são desconsiderados quaisquer custos de corretagem ou impostos. O único imposto considerado foi o imposto de renda para o título de 10,0% ao ano.
Como podemos ver, a poupança demoraria 9,6 anos para retornar o valor inicial de R$1.000,00 investidos, ao passo que o título demoraria 1,44 ano a menos.
Ambos os valores 9,6 para a poupança e 8,16 para o Título são suas respectivas relações Preço/Lucro (ou P/L).
Caso pudéssemos associar um investimento como caro ou barato sem considerar o risco deste, associaríamos seu preço com o tempo que ele demoraria para retornar um valor investido. Quanto maior o tempo, mais caro o investimento ficaria. Logo, a poupança seria um investimento mais caro que o título de 10,0% ao ano. Um título de 12,0% seria mais barato que um de 10,0%, um de 14,0% seria mais barato que um de 12,0%, e assim sucessivamente.
Cada vez que aumentamos uma rentabilidade, diminuímos o tempo e por consequência a sua relação P/L. Logo, podemos dizer que quanto menor o P/L, mais barato o ativo está.
Isto funciona muito bem para os títulos, mas para o mercado de ações esta relação, apesar de importante, tem suas peculiaridades.
Antes de tudo, vamos aprender a calcular o P/L de uma ação. Vou utilizar como exemplo a CCR Rodovias (CCRO3). Primeiro precisamos achar o P (Preço) e depois o L (Lucro).
O preço é o valor de mercado da empresa. O valor de mercado nada mais é do que o total de ações da empresa multiplicado pelo valor de cada ação. Como a empresa passou por um desdobramento recentemente, utilizarei a cotação do final do 3º trimestre de 2011. Pesquisando pelo site Guiainvest, peguei o valor de R$48,95 do referido dia.
 
Preço de cada ação em 30/09/2011: R$48,95


Para acha a quantidade de ações, é necessário seguir na página inicial da Bovespa o link EmpresasListadas, digitar o nome da empresa e clicar, depois em Relatórios Financeiros, clicar no relatório do último trimestre (geralmente é o primeiro link a aparecer). Por fim, é necessário ir em Dados da Empresa. Infelizmente esses links parecem estar escondidos, mas depois de alguns cliques o investidor ficará habituado. Após tudo isto, aparecerá uma janela assim:

Quantidade de ações: 441.396.800

Valor de mercado = Preço por ação x Quantidade de ações

Valor de mercado = R$48,95 x 441.396.800 = R$21.606,3 milhões


Repetindo, valor de mercado é quanto o mercado está avaliando a empresa. No referido dia, o mercado está avaliando a CCR Rodovias por um valor de 21,6 bilhões de reais, valor que será o P da relação P/L.


Para acharmos o L (ou lucro), devemos verificar o lucro do último ano. Para isso, teremos que somar o lucro dos últimos 4 trimestres, que são o 3T11, 2T11, 1T11 e 4T10.

A janela de onde foi retirada a quantidade de ações é referente somente ao 3º trimestre de 2011 (3T11). Para acharmos o lucro líquido, devemos ir em DFs Consolidadas, e em Demonstração de Resultado:


A primeira coluna é o lucro do 3T11, enquanto a segunda é de 1T11, 2T11 e 3T11 somados. Vamos utilizar esta segunda coluna, com o valor de R$613,140 milhões. Agora só falta somar com o lucro de 4T10.

Para achar 4T10, é necessário primeiro verificar o lucro de todo o ano de 2010 e subtrair dos 3 primeiros trimestres. Após isso, foi verificado que o lucro do 4T10 foi de R$21,444 milhões.

Somando todo o período, temos R$ 634,584 milhões de lucro.


Agora só falta resolver a divisão P/L:

P/L = Valor de mercado / Lucro

P/L = R$21.606,3 milhões / R$634,584 milhões

P/L = 34,04


Obs.: Pode-se achar também a relação P/L dividindo o preço de cada ação pelo lucro por ação.

P/L = Preço por ação / lucro por ação


Isto significa que ao comprar a ação por R$48,95, o retorno se daria em 34,04 anos, caso a empresa mantenha os lucros constantes.



Mas aí que está a grande sacada. Caso a empresa mantenha os lucros constantes!!! Na maioria esmagadora dos casos, os lucros variam com o tempo.

Se a empresa obter um crescimento nos lucros, o P/L dela cairá dando um retorno mais rápido ao acionista. Mas o que costuma acontecer é que o mercado faz um “ajuste”. Assim que os lucros da empresa sobem, o mercado sobe com a cotação e a relação P/L mantem-se relativamente constante.

Lembre-se. Quando a cotação sobe a relação P/L sobe junto. Quando o lucro sobe o P/L cai.

Porém pode acontecer de os lucros subirem, mas a cotação mantem-se estável ou chega até mesmo a cair. Esses caso podem ser boas oportunidade de compra.

Não existe um valor correto ou indicado para o P/L de uma empresa. Porém o mercado costuma colocar empresas de crescimento rápido com um alto P/L, e empresas sem crescimento com um baixo P/L. 
Porém há empresas com relações P/L altíssimas. MGLU3, por exemplo, tem um P/L de 36,9 e QGEP3 tem um P/L de 51. Esse valores só se justificam quando há uma alta expectativa de crescimento rápido nos lucros. E muitas vezes, mesmo quando há um alto crescimento nos lucros, a cotação dessas empresas não sobem, pois já estava tudo precificado no preço de suas ações. Eu, por exemplo, prefiro investir em empresas que tenham uma relação menor que 10.



Temos também empresas com P/L negativo. HYPE3, por exemplo, está com um P/L de -202!! VAGR3 está em -7. MNDL4, que é uma empresa que surpreendeu muita gente no ano passado e que está muito ruim das pernas, tem um P/L de -218. Quando se insere prejuízos constantes no cálculo do P/L, acontecem essas bizarrices. Investidores inteligentes não colocam a mão em empresas deste tipo, a não ser que este investidor já tenha muita experiência de mercado e perceba (não através de notícias) que essas empresas possuem chance reais de recuperação.



Mas Além da Poupança, dá um trabalhinho chato para ficar calculando o P/L destas empresas. Tem um jeito mais fácil não?



Tem sim. Alguns sites já disponibilizam o cálculo automático da relação P/L. Coloco como exemplos o Fundamentus e o Comdinheiro. Mas cuidado. São apenas referências. Nem sempre o que está nesses sites está correto



Para finalizar, é importante ressaltar um ponto importante. Não baseie seus investimentos apenas na relação P/L. Há muitos fatores importantes para serem avaliados, como lucros, expectativas, feeling pessoal, governança coorporativa, setor empresarial, etc, etc, etc.



Nas próximas postagens irei desmembrar mais a relação P/L, sugerindo formas de usá-la a nosso favor e descrevendo algumas teorias de grandes investidores em ações no uso da P/L.

9 comentários:

  1. ótimo post, e para aqueles preguiçosos igual eu além do fundamentus e do comdinheiro tem o site bastter.com que vc podera encontrar os indices fundamentalistas e muitas outras coisas.

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    1. Estes sites ajudam na filtragem, mas para maior confiabilidade o ideal é o próprio investidor fazer todos os cálculos fundamentalistas.

      Abraços

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    2. Exatamente AP, após a filtragem das empresas, o correto é acompanhar os balanços trimestrais para analisar corretamente a saúde das empresas escolhidas!

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  2. na tabela inicial, o rendimento da poupanca deveria ser 0,6%, e nao 0,06%
    Quanto ao rendimento do titulo, se ele rende 10% ao ano, deveria render $100,00 no primeiro ano. Como ele rendeu $80,00, o correto seria que o rendimento anual desse titulo fosse de 8%, e não 10%

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    1. Olá anônimo. Houve um deslize meu e o rendimento de fato é de 0,6% ao mês e não ao ano.
      Quanto ao rendimento de R$80,00, foi considerado o imposto de renda de 20%.

      Abraços

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    2. Grato anônimo pelo feedback. A digitação foi consertada.

      Abraços

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  3. Além da poupança,

    Parabens pelo blog, sempre acompanho.
    Gostaria, se possivel, que vc falasse mais sobre o Tesouro Direto.

    Obrigado.

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  4. Olá anônimo
    O Tesouro Direto também faz parte dos meus investimentos e com o tempo irei falar mais sobre ele sim.

    Abraços

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  5. Fui pego de calça arriada pela CCR Rodovias. Ela fez recentemente um desdobramento de ações, e como não acompanho esta empresa, apenas no próximo relatório que eu verificaria isto. Porém fui pesquisando e achei no Guiainvest o desdobramento que foi feito em novembro.
    A postagem foi atualizada e com isso teve seus números devidamento consertados.

    abraços

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