Sem qualquer dúvida, o livro “O
jeito Peter Lynch de investir”, cuja descrição poderá ser vista AQUI, é um dos
livros que contribuíram para a montagem de minha estratégia. Nele, Peter Lynch
reuniu o que considera como os treze atributos favoráveis mais importantes na
hora de selecionar suas empresas. Nesta postagem abordarei um pouco sobre estas
treze características. Para cada critério, citarei um trecho do livro, tecerei alguns comentários e
tentarei encontrar alguma empresa da bolsa brasileira que o atenda.
Nº 1 – Isso soa enfadonho – ou
melhor: ridículo
“A ação perfeita deveria estar associada à empresa perfeita, a empresa
perfeita teria de estar engajada em um negócio perfeitamente simples e esse
negócio perfeitamente simples deveria ter um nome perfeitamente aborrecido.”
Segundo o autor, um nome ridículo
é um atributo favorável. Se uma pessoa tem vergonha de dizer o nome da empresa
que investe, provavelmente o mercado também dará um pequeno desconto à empresa.
Como exemplo, ele cita “Automatic
Data Processing” como nome tedioso e “Pep Boys – Manny, Moe and Jack” como nome
ridículo.
O mercado brasileiro também
possui algumas empresas com nome estranho. Vicunha, Fras-le, Sondotecnica,
Josapar e Kroton são exemplos. Alguém consegue achar um nome tão ridículo
quanto Usina Costa Pinto? E Iochpe-Maxion? Alguém sabe como se pronuncia isso?
Nº 2 – A empresa faz algo
enfadonho.
“Eu fico ainda mais empolgado quando uma empresa com um nome tedioso
também realiza algo tedioso. Crown, Cork and Seal fabrica latas e tampas de
garrafa. O que poderia ser mais enfadonho que isso?”
Empresas que possuem atividades
tediosas e repetitivas chamam menos atenção do que empresas que precisam
reinventar a roda a todo momento. Como chamam menos atenção, o mercado costuma
demorar a percebê-las.
O mercado brasileiro também
possui empresas que fazem atividades monótonas.
A Fras-le é a maior fabricante de
materiais de fricção do Brasil. Somente eu fiquei com sono de ler isso? Conte-me
qual a graça de produzir Sapatas com Lonas Coladas.
E a Ambev? Ela pode ser hoje uma
das estrelas da bolsa, mas é outra que possui uma atividade enfadonha. Fabricar
cerveja é algo repetitivo e nada inovador.
O que é mais provável? O mercado
acompanhar a enfadonha produção de biscoitos, massas e bolos da M. Dias Branco
ou apontar seus holofotes para a exploração da camada pré-sal, da Petrobrás?
Nº 3 – A empresa faz algo
desagradável
“Melhor que ser apenas enfadonha é uma ação de uma empresa que seja
enfadonha e desagradável ao mesmo tempo. Algo que faça as pessoas desdenharem,
sentirem náuseas ou se distanciarem como sinal de desagrado é ideal.”
No livro ele citou empresas de
recolhimento de resíduos, de limpeza de gordura de restaurantes e de embrulhos
de resto de alimento.
Não é fácil achar uma empresa
deste tipo no Brasil, até porque temos poucas empresas listadas. A Sansuy
produz sistemas para armazenamento de dejeto animal, mas esse é apenas um
dentre os seus diversos produtos.
Uma ação que algumas pessoas
desdenham e se distanciam como sinal de desagrado é a Souza Cruz, mas não chega
ser tanto quanto as citadas pelo autor.
Nº 4 – A empresa é fruto de uma
cisão
“Grandes empresas-mãe não querem cindir suas divisões para, mais tarde,
vê-las em dificuldades, pois isso traria publicidade embaraçosa, que se
refletiria em seus controladores. Dessa forma, as empresas derivadas de cisões
normalmente têm bons balanços financeiros e estão bem preparadas para serem
bem-sucedidas como entidades independentes.”
Outra situação difícil de
encontrar na bolsa brasileira.
Um exemplo que talvez seja
aplicado (mesmo assim, em partes) é o término da sociedade entre a Brasilit e a
Eternit na década passada.
Nº 5 – As instituições
financeiras não são donas e os analistas não as acompanham
“Se encontrar uma ação que tenha pouca ou nenhuma propriedade nas mãos
de instituições, você encontrou uma possível vencedora”.
Esta característica é mais fácil
de ser encontrada em empresas menores, que estão longe dos holofotes do
mercado. Boa parte das empresas que não está no índice Ibovespa possui pouco ou
nenhum acompanhamento dos analistas e das instituições.
Nº 6 – Multiplicam-se os rumores:
a empresa está envolvida com lixo tóxico e/ou com a máfia
“Lembram-se das temidas ações de cassinos que agora estão na lista de
compra de todos? Os investidores respeitáveis não deveriam tocá-las porque
todos os cassinos supostamente pertencem à máfia”.
Não há rumores de empresas
brasileiras envolvidas com a máfia ou com lixo tóxico, mas captei o sentido
desta frase. Uma característica favorável na hora de se investir é quando tem
um rumor podre relacionado a uma empresa. Mas este rumor ainda não está
confirmado.
Temos por exemplo, empresas
ligadas aos rumores da bolha imobiliária, à proibição do amianto, à
desaceleração chinesa e à fragilidade dos bancos pequenos. Lembre-se que os
rumores se alteram como tempo. As empresas que provocam o medo hoje poderão ser
as disputadas de amanhã.
Nº 7 – Há algo desanimador em
relação a isso
“Agora, se há algo que Wall Street preferiria ignorar, além do lixo
tóxico, é a morte. E a SCI realiza enterros.”
Nessas horas vemos o quanto o
mercado americano é desenvolvido. Empresa de enterros sendo negociada na bolsa?
Alguém consegue achar na bolsa brasileira uma empresa que atua em um serviço
tão desanimador quanto isso?
Nº 8 – É um setor de atividade
sem crescimento
“Muitas pessoas preferem investir em um setor de alto crescimento, no
qual há grande agitação. Não é o meu caso. Prefiro investir em um setor com
crescimento lento, como o de facas e garfos plásticos, mas apenas no caso de
não poder encontrar um setor sem crescimento, como o de funerais. É aqui que
são gerados os grandes vencedores.”
Segundo o autor, os setores mais
promissores são os setores sem crescimento. Isso porque os setores que estão
crescendo chamam a atenção de dezenas de empresas, aumentando a concorrência.
No Brasil, por exemplo, quando o setor imobiliário estava indo bem, pipocaram
na bolsa diversas empresas construtoras. Entretanto, poucas são as que
obtiveram resultados satisfatórios. Agora pegue, por exemplo, o setor de
cigarros. É um setor de crescimento negativo. Aos poucos o número de fumantes
está caindo, mas veja a performance das empresas deste setor.
Nº 9 – A empresa possui um nicho
“Certamente, ter uma pedreira é muito mais seguro do que ter um negócio
de joias. Se já estiver no negócio de joias, você está competindo com outros
joalheiros ao longo da cidade, do estado e mesmo do exterior, uma vez que
viajantes podem adquiri-las em qualquer parte e trazê-las para casa. Mas caso
possua a única pedreira do Brooklyn, você tem um monopólio virtual, além de
contar com a proteção adicional da impopularidade do setor de pedreiras.”
Segundo o autor, algumas empresas
possuem um nicho, que seria uma vantagem única, o que traz segurança. Ele citou
como exemplo empresas como pedreiras ou que operam minas de baixo valor
agregado. Como transportar pedras é caro em comparação com o produto, a empresa
poderá ter certeza de que não competirá com pedreiras de outros países, o que a
torna um monopólio local.
Um bom exemplo de nicho brasileiro
são as empresas que obtém concessões rodoviárias. A empresa lucrará enquanto a
concessão durar. Os motoristas não tem opção de caminhos alternativos. Opção
até tem, mas sai muito mais barato pagar o pedágio. E nenhuma empresa poderá
criar uma estrada do lado para fazer competição de preços.
Nº 10 – As pessoas têm de
continuar a comprar o produto
“Por que se arriscar em compras de empresas instáveis quando há muitos
negócios sólidos à nossa volta?”
É mais seguro investir em
empresas que produzem coisas que as pessoas compram constantemente.
Vide a margarina Claybom que a BR FOODS produz. É um
produto que faz parte do carrinho de compras mensal de diversas famílias. A
empresa não precisa reinventar uma margarina diferente para chamar atenção. É
provável que a Claybom de hoje, a de
10 anos atrás e a de 10 anos no futuro sejam quase a mesma coisa, senão iguais.
Então a empresa poderá concentrar esforços para cortar custos, diminuir
despesas e modernizar seu parque.
Agora compare com a Estrela,
fabricante de brinquedos. Normalmente as crianças compram apenas um brinquedo e
nada mais. A empresa precisa desenvolver novos brinquedos para chamar a atenção
das crianças e dos pais, correndo o risco do novo brinquedo não vingar. Claro
que há brinquedos como o jogo de tabuleiro “Monopólio” que existe há décadas,
mas quantos “Monopólio” uma família poderá comprar?
Nº 11 – A empresa é usuária de
tecnologia
“Em vez de investir em empresas de computadores que lutam para
sobreviver em uma guerra infinita de preços, por que não investir em uma
empresa que se beneficia da guerra de preços?”
Há uma diferença gritante entre
investir em empresas que desenvolvem tecnologias e empresas usuárias de
tecnologia.
O mercado tecnológico é
predatório e instável. As empresas precisam gastar bastante dinheiro em
pesquisa e desenvolvimento para sobreviver. Compare os gigantes da tecnologia
da década de 80, com os de 90, com os de 2000 e os de hoje. Em todo o período,
somente uma ou outra empresa que permaneceu perto do topo. Estas empresas
competem tanto que produzem produtos maravilhosos a preços convidativos. Ruim
para elas, melhor para quem compra.
Imagine a eficiência, controle e
redução de custos proporcionados a um supermercado após implantar caixas
automatizados com leitor de código de barras, integrado a um sistema de
controle de estoques. Antigamente quando um supermercado alterava o preço de um
produto, aparecia um pelotão de marcadores com uma maquininha que grudava um
adesivo indicando o preço em cada produto. Hoje, basta um comando no computador
e apenas uma indicação do preço em um local visível, próximo do produto.
E o índice de golpes da época que
o cheque era famoso? Os comerciantes não tinham tanta escolha. Se aceitasse o
cheque eles vendiam mais, mas recebiam alguns cheques sem fundo. Se não
aceitasse cheque, ficavam para trás. Hoje há o sistema de cartão de crédito que
imediatamente acusa quando o cliente não possui fundos.
Há diversas empresas que se
beneficiam com a tecnologia. Bancos, supermercados e diversas fábricas se
tornam mais eficientes após a compra de tecnologia.
Nº 12 – Pessoas que fazem parte
da empresa compram suas ações
“Não há melhor dica em relação ao provável sucesso de uma ação do que
os membros da própria empresa estarem colocando seu próprio dinheiro no
negócio.”
Se os funcionários estão
comprando ações da própria empresa, é um provável sinal de que ele está
sentindo bons ventos. Melhor ainda é quando os membros da diretoria compram
ações da empresa.
Algumas empresas convertem parte
do salário de seus diretores através da compra de ações. Assim parte do salário
de seus diretores é em dinheiro e parte é em ações, incentivando-os a buscarem
melhores resultados. Um exemplo dessa medida no Brasil é a Eternit.
Nº 13 – A empresa está
recomprando ações
“Recomprar ações é a forma melhor e mais simples de uma empresa
recompensar seus investidores.”
A partir do momento que uma
empresa recompra suas ações e as cancela, seus resultados no futuro serão
divididos por uma menor quantidade de acionistas. Quando uma empresa anuncia o
início de um programa de recompra de ações, muitas vezes o mercado interpreta
como um sinal de prosperidade na empresa ou de que a empresa considera suas
ações num patamar de preço baixo.
Há várias empresas no mercado de
ações brasileiro que poderiam ser citadas. Um exemplo recente é do Banco do
Brasil, que anunciou nesta semana um programa de recompra.
E você, conhece alguma empresa
brasileira que atenda a algum dos critérios? Ou melhor, você conhece alguma
empresa que atenda todos eles? Então deixe seu comentário abaixo!
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Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirAdP, irei adquirir esse livro, me parece uma boa continuação depois de ter lido o do Buffett e a analise de balanços!
ResponderExcluirComo eu to chegando na festa( triste) da bolsa agora, não sei de nenhuma que encaixe nesse perfil, pelo que me parece, o nosso mercado é muito incipiente, logo muita coisa do american way of investing tem que ser adaptado!
Eu vi vc comentando no blog do Corey que tá desenvolvendo uma ideia de negocio c/ eletrônica e informática, não sei se é isso, mas tem algum tempo que fico observando o potencial da automação residencial, acho que com as novas tecnologias ( Arduino e Raspberry pi) possíveis, um grande mercado é aberto para exploração, antes só "barão" e mansões poderiam ter isso, agora assalariados e pessoas frugais podem ter acesso à essas mordomias tecnológicas.
Sim, uns 10 anos atrás esses microcontroladores eram caros e tinham uma linguagem difícil. Hoje são bem mais em conta e qualquer linguagem C básica já permitem o desenvolvimento de coisas interessantes. Ficou mais acessível e simples.
ExcluirAbraços
Caro AdP, acho a estratégia em discussão meio descabida. Veja: quase todos os elementos em pauta são de caráter imponderável. Como a gente pode falar em enfadonho, desanimador etc. Peter Lynch pode ter acertado. Como aplicar o que ele diz na nossa rotina. Eu certamente não daria conta. Problemas éticos e morais me deixam sem baliza.Um abraço.
ExcluirNão é possível agradar a todos. Se você acha imponderável, paciência.
ExcluirGrande texto, Adp.
ResponderExcluirParabéns pelo blog, sempre educativo.O seu trabalho, como sempre, pode ser considerado de utilidade pública!
Valeu, Rafael, pelo apoio.
ExcluirAbraços
Excelente esse livro. Foi um dos que mais gostei =)
ResponderExcluirMuito bom. Leio sempre que dá vontade.
ExcluirAbraços
Olá AdP,
ResponderExcluirNão li o livro do qual tirou as citações e gostei muito delas, principalmente dos seus exemplos e comentários voltados ao mercado brasileiro, parabéns e espero que continue com essas iniciativas! :)
Abraços
Valeu, General, pelo apoio. O livro é muito bom. Recomendo.
ExcluirAbraços
Olá.
ResponderExcluirCritério 13 - PARANA BANCO e GRAZZIOTIN sempre estão recomprando ações.
Paraná é um nome nada criativo, apesar de não ser tão ruim, kkkkkkkkk.
ExcluirNome estranho e esquecida pelo mercado - PARANÁ BANCO.
ResponderExcluirNº6 - Eucatex
ResponderExcluirOi! vejo pelo seu blog que és um visionário, parte da pequena parcela da população que saiu da cadeira e foi atrás de mudança!
ResponderExcluirPor isso queria te fazer um convite para um projeto que pode te ajudar muito na sua jornada! Não consegui encontrar e-mail de contato então, para mais detalhes, peço que mande um e-mail para roiz.js@gmail.com
abraços, Jessica Rodrigues
Olá Jéssica,
ExcluirNão sou visionário. Sou tão normal quanto qualquer um. A diferença é que consegui reservar uma pequena parte de meu tempo para me dedicar um pouquinho aos investimentos.
Abraços